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Magnificat: o cântico da bem-aventurada.

dezembro 31, 2017

CEBI MÉIER

Comunidade Renato Cadore

Magnificat: O Cântico da Bem-aventurada.

Fernando Henriques

coordenador

Meu coração se alegra com Javé, em Deus me sinto cheia de força. O arco dos poderosos é quebrado, e os fracos são fortalecidos” (Cântico de Ana, 1 Sm 2,1b.4).

O cântico de Maria é o cântico dos pobres que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através de Jesus. Cumprindo a promessa, Deus assume o partido dos pobres, e realiza uma transformação na história, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Editora Paulus, nota de rodapé a Lc 1, 46-56).

Lucas faz uma releitura do Cântico de Ana do Primeiro livro de Samuel, e coloca nos lábios de Maria o Magnificat. Trata-se de verdadeiro prólogo à Teologia da História dos escritos lucanos. Deus se revela libertador. E sua ação na história humana é reconhecida quando o seu braço divino age dispersando os homens de coração orgulhoso, depondo os poderosos de seus tronos e exaltando os humildes.

Como primeiro ensaio mariológico, o CEBI Méier vai focar o Cântico da Bem-aventurada. Nossa reflexão se guiará pelo texto de Maria das Graças Vieira (PNV 268), irmã catequista franciscana, mestre pela EST (Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, RS). Ela procura nos mostrar que a crença nas transformações sócio-históricas de libertação dos oprimidos e dos excluídos tem no Magnificat, o cântico entoado por Maria, mãe de Jesus, uma de suas fontes mais inspiradoras.

No olhar profético da Maria que canta, refulge a ação salvífica e escatológica de Deus. Só assim podemos entender as profecias do Magnificat que, começando pela jovem Maria, têm sua culminância histórica na cruz e ressurreição do Filho de Deus, atualizando-se ainda hoje  cada vez que o pão é partilhado, a justiça se realiza e o pobre encontra-se com o Deus libertador que o salva de suas opressões.

Maria nos leva a entender que vai louvar a Deus e celebrar as maravilhas que ele realizou para nos confirmar na fé, consolar todos os pequeninos e fazer tremer todos os poderosos da terra. Maria não entoou este canto apenas para si, mas para todos nós, seguidores do caminho.

O Magnificat é um cântico da comunidade dos pobres, mostra o motivo da encarnação e a razão da manifestação do Filho de Deus na história dos homens. Mostra-nos que o nascimento de Jesus é fruto do amor misericordioso de Deus que olhou a miséria de seu povo e veio em seu socorro.

O louvor a Deus e a alegria messiânica penetram as profundezas de Maria, sua alma e seu espírito. As obras divinas da salvação suscitam nela um canto de louvor a Deus, um hino de júbilo. Maria se conta entre os humildes, pequenos e pobres, aos quais os profetas e salmos tantas vezes prometem a salvação.

O louvor de Maria, iniciado por Isabel, não mais terá fim. Todas as gerações entoarão os louvores daquela Maria. Ela será sempre e por toda parte enaltecida.

O CEBI Méier convida a todos para fazermos juntos essa leitura orante da Bíblia. Refletir sobre o Magnificat, mas também sobre a disponibilidade e humildade de Maria de Nazaré. Este encontro será realizado no sábado, 11/05/13, das 8:30 às 12 horas, na Casa Padre Dehon.

Livro-texto: “O Cântico da Bem-aventurada – uma interpretação do Magnificat em Lucas 1, 46-55”, Maria das Graças Vieira, Edição do CEBI – Série A Palavra na Vida PNV 268, 1ª edição, São Leopoldo, 2010.

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Evangelho de João, o Caminho da Vida.

dezembro 10, 2017

CEBI MÉIER

Comunidade Renato Cadore

Evangelho de João, o Caminho da Vida.

Fernando Henriques

coordenador

 

 

E a palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós, e vimos sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1,14).

 

O evangelho não sinótico de João, de teologia descendente, é o resultado do testemunho do discípulo amado. “Este é o discípulo que deu testemunho dessas coisas e que as escreveu” (Jo 21, 24 a). Ele também pode ser aceite como testemunho da comunidade joanina, redação coletiva fruto da vivência daquela comunidade que encarnou e viveu o projeto de Jesus de Nazaré. “E nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (Jo 21, 24b).

Tradicionalmente o CEBI Méier dedica-se a um estudo bíblico de maior fôlego. Ano passado estudamos Marcos. Lucas já o havia sido à cerca de dois anos. Diante disso, e ouvida a Assembléia do CEBI em dezembro passado,  a coordenação propôs uma série de 7 encontros ao longo do ano, o primeiro deles a 6 de abril, titulado O Primeiro Sinal.

Outros quatro encontros ficam para 2014. Nossa reflexão se guiará pelo texto de José Bortolini, que procura mostrar que a prática de Jesus se resume num compromisso contínuo e pleno com a vida do povo que sofre. Por sua ação Jesus mostra qual é o projeto que Deus tem para toda a humanidade, judeu ou samaritano, grego ou romano, de qualquer etnia ou cultura.  Quem vê Jesus agindo, vê o Pai. Quem adere a Jesus e o segue, caminha ao encontro do Deus da Vida.

O evangelho de João fala de sete sinais. Mas o maior sinal do escrito joanino é o próprio Jesus dando a vida por amor, e indo até as últimas conseqüências. Segundo Bortolini esse é também o caminho das comunidades comprometidas com ele.

O quarto evangelho teria sido escrito por volta do ano 100, após quase 60 anos de elaboração oral e proto-escrita. Ele testemunha a caminhada difícil do povo de Deus. Sua redação final é posterior à destruição de Jerusalém e ao congresso de reorganização do judaísmo que expulsou os cristãos (seguidores do Caminho) das sinagogas.

Como se nos apresenta atualmente o texto nos fornece elementos de quatro fontes distintas, uma delas, chamada por alguns biblistas “Atos dos Apóstolos de João”. Podemos apresentar a estrutura do texto como segue:

  1. a) Prólogo (1,1-18)
  2. b) O Livro dos Sinais

Primeira Semana (1,19-11,57)

Segunda Semana (12,1-12,50)

  1. c) O Grande Sinal (13,1-20,29)
  2. d) Epílogo primeiro (20,30-31)
  3. e) Apêndice: o dia que não termina (21, 1-23)
  4. f) Epílogo segundo (21, 24-25).

Neste ano de 2013 o CEBI Méier, com esta série de 7 encontros, espera poder caminhar em direção a uma compreensão maior deste evangelho profundamente teológico em sua concepção, com o Logus apresentado já na criação do mundo. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1,3). E esta mesma Palavra, este Verbo se fez carne e habitou entre nós, no grande mistério da encarnação de um Deus que se despoja de tantos atributos para viver a nossa miséria.

A força do texto de João é mostrada nos cerca de 23 bispos de Roma que adotaram esse nome. E foi o último deles que sob inspiração do Espírito convocou o concílio ecumênico Vaticano II, também objeto de estudo este ano por nossa comunidade.

O CEBI Méier convida a todos para fazermos juntos essa caminhada. Refletir sobre o Evangelho de João, mas também sobre a comunidade que lhe deu origem. Sempre aos sábados, das 8:30 às 12 horas.

Livro-texto: “Como ler o Evangelho de João – O Caminho da Vida”, José Bortolini, Editora Paulus, 6ª edição, São Paulo, 2003.

Reforma Política – A Igreja Profética e a Luta do Povo

dezembro 3, 2017

MIRANTE DE SÃO SEBASTIÃO

 

Nº 259 –  19/03/2015 Notícias da Beira

Fernando Henriques

 

Reforma Política

A IGREJA PROFÉTICA E A LUTA DO POVO.

 

 

O Concílio Vaticano II renovou decisivamente a face da Igreja. Os novos ares semearam essa renovação por todo o continente latino-americano. A primeira Campanha da Fraternidade da CNBB, em 1964, abordou o tema “Igreja em Renovação”, tendo como lema “Lembre-se, você também é Igreja”. E no ano seguinte a mesma campanha refletiu o tema “Paróquia em Renovação” e trouxe o lema “Faça de sua paróquia uma comunidade de fé, culto e amor”. A Igreja do nosso continente se reuniu sucessivamente em Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).

Este ano a campanha versa sobre o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, tendo ainda como lema “Eu vim para servir” (Mc10,45). Neste ano a Igreja recorda com ardor a renovação proposta no Vaticano II e se debruça profeticamente sobre a realidade brasileira.

Muitas dioceses do país estão aproveitando o período quaresmal para fomentar o apoio popular a uma Reforma Política democrática e eleições limpas, uma iniciativa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e inúmeras outras entidades e movimentos da sociedade civil. Mas que reforma política nós teremos?

Durante muito tempo os políticos eleitos fugiram dessa reforma que alguns chamam de mãe das reformas, as outras também necessárias ao aprimoramento democrático e à governabilidade da nação. Então um sem número de políticos se converteu à necessidade da reforma, ouvindo embora com atraso o clamor popular. Hoje não temos uma, mas várias propostas de reforma democrática.

Há pelo menos três diferentes propostas consistentes de reforma política. A primeira delas, lançada por Dilma Rousseff logo após as eleições, estabelece consulta popular por plebiscito paralelamente ao Congresso Nacional. Uma segunda proposta, do PT, CUT e algumas centenas de entidades civis defendem uma Constituinte exclusiva e aprovação por referendo. A terceira proposta, de iniciativa da CNBB e OAB e apoio de mais de uma centena de movimentos e entidades defendem uma reforma no Congresso através de uma Lei de Iniciativa Popular, da mesma forma que se conseguiu aprovar as leis de criminalização da compra de votos e a “ficha-limpa”. Uma quarta proposta lançada pelo PMDB se parece com a reforma de Dilma. Um movimento surgido entre os congressistas pretende uma reforma com sinal contrário, acentuando distorções que a proposta inicial de reforma pretendia corrigir.

A proposta da CNBB/OAB determina o fim do financiamento empresarial para candidatos e partidos políticos. Trata-se de impedir que o poder financeiro se transforme em poder político. Empresa não vota e não há motivo para que faça investimento em campanha política. Porque é disso que se trata: as grandes empresas “investem” seu capital em determinados políticos para que depois possam cobrar os “dividendos”, sob forma de corrupção, negócios escusos e lucro além de qualquer limite.

A participação popular é outra necessidade defendida pela Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. É preciso aprofundar a democracia, tirar o poder econômico dos processos decisórios, enfrentar a sub-representação de variados grupos sociais e avançar no sentido de uma democracia direta e participativa.

O projeto prevê ainda eleições em dois turnos, o primeiro em listas fechadas e o segundo em listas abertas. Procura-se com isso dificultar a existência dos chamados partidos de aluguel e privilegiar o voto em programas e não em individualidades, por mais pitorescas que se apresentem.

Neste mês de março a coleta de assinaturas por essa lei de iniciativa popular vai procurar atingir a marca legal de 1,5 milhões de assinaturas em todo Brasil. A militância da Igreja está definitivamente engajada nesse gesto concreto que tão bem se ajusta ao tema Igreja e Sociedade. Esperemos que o barco chegue a bom porto.